quarta-feira, novembro 07, 2007

O bolsa-cinema

Ontem a Polícia Federal prendeu um bocado de gente que surrupiava os recursos da Lei Rouanet, aquela que permite que projetos ditos culturais peguem recursos de empresas que, por sua vez, descontam o investimento no imposto de renda.

Funcionava assim: o caboclo entra com o projeto na lei. Lá dentro do Ministério, a quadrilha selecionava o projeto, e, depois de aprovado, cobrava porcentagem do valor liberado.

Ó, eu já participei algumas vezes desta seleção aí (não, nunca ganhei.). Também conheci pessoas que fizeram parte da comissão (regional – no caso, BH) de escolha. Li vários projetos, tanto que foram aprovados, quanto recusados. Acompanhei ano a ano a lista de aprovados. E vou lhes dizer: é impressionante como os nomes se repetem!

80% dos aprovados é sempre a mesma turma. E não se pode dizer que os projetos deles sejam tão melhores, ou mesmo melhores, que os dos outros. Li vários projetos, depois aprovados, tão mal escritos que fariam inveja a Paulo Coelho.

Sempre pairou a desconfiança de que rolava uma graninha. Taí a prova cabal. Se é que precisava de uma, haja vista os casos Guilherme Fontes – do interminável filme Chatô, O Rei do Brasil –, e de Norma Bengell, cujo filme (O Guarani) ninguém viu e se transformou magicamente em um dúplex às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, Rio.

A PF conseguiu confirmar que pelo menos 20 projetos estavam no esquema. E a pergunta que não quer calar é: será que seus autores vão devolver a bufunfa?

Correndo o risco de tornar o texto muito longo, sempre achei esse tipo de patrocínio deletério. Se ele foi importante para a tal “retomada” do cinema brasileiro, hoje é responsável por uma enxurrada de filmes de prateleira. Filmes que ninguém viu, e nem vai ver, já que não dependem de bilheteria para se pagarem. Já estão pagos. Você pagou! E não viu... E, na maioria das vezes, é melhor não ver.

Um sistema como o canadense me parece muito mais apropriado. Lá, o produtor do filme tem um prazo pra devolver a grana investida pelo governo. Isso, além de realimentar o sistema, faz com que as pessoas se preocupem com a continuidade do seu produto. “Ah, mas e os filmes ‘artísticos’, que não atraem bilheteria?”, perguntar-me-ão (viram? Mesóclise!). Sei que essa discussão é longa e não pretendo encerrá-la aqui. Mas, logo de cara, digo que é muito mais fácil criar mecanismos particulares para esse tipo de projeto se o resto se sustenta sozinho. Isso sem entrar na discussão de quem, afinal, decide se tal projeto é “arte” ou apenas megalomania de gênios incompreendidos.

18 comentários:

Anônimo disse...

Xi, Túlio, cansei de ver isso. E ainda tem gente que acha que dá pra montar projetos na base do talento.

E não tem jeito: qualquer modificação que se faça na lei Rouanet ou em qualquer outra, sempre haverá como driblar. A pilantragem é a única área do conhecimento em que os brasileiros investem sua inteligência.

Túlio disse...

Infelizmente, concordo com você, Lets.

Sempre disse que o que falta no brasil são produtores. Daqueles que investem sua grana e querem ver retorno.

Essa história de fazer filme com investimento a fundo perdido não presta.

Nisso os Mainardi acertaram: fizeram dois filmes ruins, mas com recursos próprios. Nem um tostón de bolsa nenhuma!

Anônimo disse...

"Nisso os Mainardi acertaram: fizeram dois filmes ruins, mas com recursos próprios. Nem um tostón de bolsa nenhuma!"
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Seu Tolio, esses Mainardi tem sorte.Deve ser porque eles São Homens MUSCULOSOS! Por isso que eu aprebdi caraté e judô!

Com certeza, eles devem ter alguma receita, contra invejosos que não suportam ver pessoas que tambem trabalham sem procurar "beneces" e a "inveja é fenomenal" que se unem para abortarem mecanismos,contra pessoas, que tambem sempre trabalha com meios proprios...
fazem por onde os meios proprios sejam cortados...

Verifico seu post que esta uma maravilha!

Tem um detalhe: ocê esqueceu que existe quadrilha em varios outros setores que são especializados de ir atras de "clientes" que "não quer ser cliente" desses projetos...

Existe quadrilha, comandanda por chefs que nem aparece nos papeis que você diz ter verificado...igual aquelas estorias de LARANJA...

Existe chefes de quadrilha que não se vê nos papeis perseguem "clientes que não querem ser clientes"

Provocam tudo o que for possivel para que clientes, que não querem ser clientes, não encontre,alternativas e é ai que esta o objetivo...

Os chefs que "não aparece nos papeis" promovem meios de causar ruina...unicamente para tomar posse dos bens do cliente que não quer ser cliente!

Muitas vitimas em certas cidades calam por não ter meios de lutar contra certas praticas...

Conheçi certos CORAJOSOS de enfrentar "us bandidos", mas os bandidos observaram essa capacidade tambem e partem para outros methodos e certos corajosos ainda precisavam ir para a universidade para estudar os tais METHODOS porque os quadrilheiros quando se sentem ameaçados, eles, reajem infiltrando desses certos methodos...

Ah! existe certas pourcentagens que são cobradas antes de ser liberado o dinheiro e assim esvaziam certas tesourarias...vale a pena olhar pra todos os lados e methodos!

Adorei esse post!

Bjin seo Tolio.

Anônimo disse...

E-VIDENCIA!

Seo Tolio cê isqueceu os clonagens de cartas...de telephone...é assim os quadrilheiros chefs que não aparece nos paper...faz "grampos" ai seo Tolio, eles escutam conversas e despois, mandam cabos de vassouras em madeira fraquinha ramificar empurando us lixos fora duslugar em risco de serem descobiertos...

IO me piergunto: pra grampiar meus cabelos lindos, preciso estar no meio dos grampos e de muitos muitos grampos la pela Bahia de todos os Santos do pau OCO e Recife serve para passar ferias em Boas Viagens e dai posso até mesmo pegar linhas pra amarrar e bato em poste e cai os fios das meadas de linhas...e vou para nadar nas AGUAS do UM RIO LINDO!

Esse é um dus capirtolos de um livro em fase de acarbamento...descuspes viu seo Tolio nuseiixcrever...

Bjin

Vivi disse...

Eu vi o Guarani... mas não deveria ter visto.

Túlio disse...

Agora cê entendeu, né Vivi?

Anônimo disse...

Se filme " artistico" não dão bilheteria que se façca filme comercial, ora pois!
Os produtores de "Roliúdi" num querem nem saber do filme só se preocupam com a bilheteria deve ser por isso que eles produzem umas porcaria.

Fábio Mayer disse...

O beneficio da Lei Rouanet é ridículo...a cada 100 reais investidos, 2 ou 3 representam renúncia fiscal, de modo que as empresas investem apenas por imagem, nada de abater imposto com cultura.

Mesmo assim, isso representa alguns milhoes de reais.

É uma Lei fiscalista. Ela tenta de todos os modos inviabilizar o projeto, para que não haja abatimento fiscal.

Daí vai de encontro ao que escrevi ontem lá no blog. BUROCRACIA, que é feita para afastar os honestos e benefiar os safados. A burocracia é tanta que os esquemas aparecem, nem que seja para tirar processos do fim de uma filha, para seu topo, tentando acelerá-los.

Mas os que conseguem a aprovação, são, via de regra, agraciados com "amigo" deputado ... ou seja, o talento fica de lado, o importante é o critério político, o QIndica.

Por isso que a cada 100 filmes nacionais, salva-se 1. Mas sempre há dinheiro para o filme de um Guilherme Fontes ou de uma Norma Bengell, sabidamente bem relacionados.

Querem saber? Os filmes nacionais palatáveis, têm saído da Globo Filmes, que age como produtora, embora também busque o patrocinio da Lei...

Túlio disse...

Malu,
em róliúdi são os filmes porcaria que financiam os artísticos. Woody Allen nunca deu retorno. Seus filmes são produzidos porque dão prestígio.
Tom Cruise acabou de lançar um filme (não sei se é bom) que os críticos duvidam que dê bilheteria. Ele tá apostando é no Oscar.

Fábio,
Cê foi na mosca!
A globo Filmes age como produtora de verdade. Se bem que lá ainda tem uma forte tendência a se fazer televisão em película. O que é uma porcaria.
De qualquer forma, estimula o aparecimento das Band Filme, SBT Filme e Record Filme. A concorrência é sempre boa.

Vivi disse...

Ai,gente, será que sou só eu por aqui que gosta dos filmes nacionais? (Com exceção de "O Guarani").
Essa questão do "patrocínio público" é complicada mesmo. Semana passada fui a um evento ótimo, o Festival Internacional de Curtas, e fiquei pensando cá com meus botões: o que seria desse segmento do cinema no Brasil, ou melhor, o que seria do cinema nacional se não fosse a Petrobras? O principal local de exibição dos filmes é o Odeon, casa arrendada pela BR, o festival também é patrocinado por ela e alguns dos trabalhos exibidos também... a grande maioria recebeu algum benefício ou lei Rouanet ou de alguma lei ou portaria similar municipal, estadual. E eu dei graças a Deus por isso!
Tanto filminho bom, tantos estudantes produzindo, tantos jovens cineastas dando as caras ... (lógico que tinha muita porcaria também, mas isso é comum e saudável em eventos do tipo). O fato é: Apesar de ser uma delícia assistir curta-metragem (pelo menos eu adoro) esse não é um formato que se sustente comercialmente, mas é onde tudo começa para muita gente. Sem esse tipo de incentivo, o que seria desse povo?

Túlio disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Túlio disse...

Não confunda as coisas, Vivi.

Primeiro: gosto de cinema (nacional ou não). Curtas incluídos!

Segundo: a produção de curtas depende de patrocínio sim. E se você ler atentamente, falo que seria muito mais fácil criar mecanismos para sustentar esse tipo de produção (assim como aos fimes 'de arte')se o sistema for auto-suficiente, fechando os ralos por onde escorrem as verbas para filmes ditos comerciais mas que independem de bilheteria. Assim o caboclo não se importa em fazer cópias (processo caro), distribuir adequadamente, publicidade decente. Tudo isso porque o filme já tá pago e o autor, doravante chamado de cineasta, já tá na praia.

É fácil ser genial com o dinheiro alheio.

Anônimo disse...

-"É fácil ser genial com o dinheiro alheio."

Adorei essa frase seu Tulio!

Estamos no periodo de caça...de Navios Piratas!

A caça ajuda todos os autores receber o dinheiro que lhes é de direito!

Piratagens é passivel de altos pagamentos milionarios isso pode ajudar os MAINARDIS e outros caso eles tenham sido copiados...

Bjin seo Tolio

Anônimo disse...

Seo Tolio, quer casar comigo?

Bj

Anônimo disse...

Concordo com o /a espada imortal.

Vivi disse...

Calma, Túlio, eu não quis dizer que você não gosta de cinema. Já falamos disso outras vezes e sei que essa é a tua praia. Os comentários do pessoal aqui deram a entender que os filmes nacionais são ruins (foi a impressão que eu tive, galera, não estou dizendo que vocês afirmaram isso categoricamente) e disso eu discordo. Já vi muito filme bom produzidos em "terra brazilis" nos últimos anos (com ou sei Lei) .
Por outro lado, também não estou defendendo a Lei Rouante ou qualquer outra similar, apenas levantei uma questão particular: a importância delas para abrir portas, iniciar carreiras, etc. Lógico que sou contra essas panelinhas e armações que beneficiam sempre as mesmas cartas marcadas. Sobre isso nem há o que questionar. E também defendo a busca por alternativas para que as produções não dependam exclusivamente do dinheiro do Estado (e tem gente procurando mesmo) e mais clareza nos critérios de seleção e, principalmente, PRESTAÇÃO DE CONTAS DO QUE FOI INVESTIDO.
Como você mesmo disse no texto "a discussão é longa", só levantei mais um viés.

hashmalim disse...

Sr. Tulio,

Esse post é tão interessante, que não resisti e fiz uma postagem pra mostrar o quanto adorei ler sobre bolsa cinema e sobre a corrupção postada no blog do Fabio Max, que, se observarem, os dois posts, feito por vocês dois, estão perfeitos! A "face escura de situações tipicas de um Brasil" usando inteligencia, unicamente, para saquear pessoas honestas, esta bem demonstrado mesmo sabendo-se que as astucias de saquear pessoas não se resume unicamente em filas enormes...!

Existe injustiça em varios meios...Não esqueçam disso!

Bjo

Túlio disse...

A discussão é longa... Beijins Vivi.