terça-feira, dezembro 18, 2007

Um Çonho de Natal - Túlio


Já era madrugada em brasólia. No Palácio do Planalto, apenas uma sala estava iluminada. Pelos corredores escuros, ecoava um sussurro, quase inaudível. À medida que se aproxima do único ponto de luz, a voz se torna mais e mais clara, até explodir num grito:

- cêpêemiéfi, cêpêemiéfi, cêpêemiéfi, CÊPÊEMIÉFI!!

Atrás da mesa, Luiz Inácio, ô Luiz Inácio, acorda assustado.

- Ufa! Foi çó um çonho. Achei que a cêpêemiéfi tinha caído. Vê só!

De repente, seus olhos caem sobre uma cópia da Gazeta de Garanhuns que estava sobre sua mesa. A manchete SENADO REJEITA CPMF provoca um novo espasmo.

- ALOPRADOS!!! Mas eles vão me pagá. Ah se vão.

Foi quando as luzes começaram a piscar.

- Só falta agora vir o apagão. Mas eu programei ele só pro próximo governo...

Uma voz fantasmagórica ecoa.

- Lula Iscrudgi... Lula Iscrudgi...

Noço Guia olha em volta e não vê ninguém.

- Quem é? – Pergunta ele aterrorizado.

- Luiz Inácio. Ô Luiz Inácio!

- Ah. É você Mão Santa? Cê me açustou.

- Não... Não é o Mão Santa.

- Então quem é?

Nisso uma figura se materializa na sua frente. Noço Corajoso Guia pula pra trás da cadeira. A figura que se materializa é um ser asqueroso. Magro, um pouco abatido apesar de bastante queimado de sol, e careca.

- Marcos Valério?!? É você?

- Sim Luiz Inácio.

- Quê isso. Pode me chamar de Lula. Nós semo íntimo. Mas vem cá, desculpa perguntar, mas: você morreu?

- Não. É só pra história fazer algum sentido que eu vou aparecer como fantasma.

- Ah, que bacana!

- Vem cá. Fui lá na sua casa e você não estava. Quê que cê está fazendo tarde da noite aqui no Palácio?

- Ora, eu tava trabalhando. Eu sô trabaiadô!

- Não, sério.

- É verdade. Eu tava escrevendo meu discurso qui eu vô fazê na ONU e caí no sono.

- Você escrevendo? Tá querendo enganar quem?

- Tá bom. Eu tava lendo o discurso que minha açeçoria feiz.

- Sei.

- Tá bom. Eu tava lendo uma revista da Mônica.

- Lendo?

- Óquei. Eu tava vendo as figurinha e durmi.

- Chega de conversa! Eu vim te avisar. Lembra de como eu era quando vivo? Eu roubava, comprava votos, subornava e era subornado...

- Se lembro. Era uma alegria só.

- Era. Mas eu estava errado, Lula Iscrudgi. Agora eu estou condenado a passar a eternidade numa praia no Caribe.

- Não me parece tão ruim.

- Mas sem protetor solar.

- Ahhhh!

- Essa noite, você receberá três fantasmas. Você deve fazer o que eles mandarem. É pro seu próprio bem.

- Tá.

- O primeiro é o Fantasma do Metalúrgico Passado.

- Ah... Que bom. Ele anda sumido. Quase não me lembro dele.

- Cuidado Lula Iscrudgi. Cuidado com a danação eterna. Cuidado... Cuidado...

O fantasma repetia essas palavras enquanto desaparecia no ar. Noço Guia, mais aliviado, sentou na cadeira, pôs os pés em cima da mesa e cruzou os braços atrás da cabeça.

- Ah. Tô doido prá eçe metalúrgico chegá. Pra gente tomar umas pinga e relembrá os véio tempo. Será que ele tem o mindinho?...

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* Gravuras: Edu.

5 comentários:

Túlio disse...

Quem é o próximo?

Fábio Mayer disse...

Eu só posso escrever um capítulo a partir de quinta-feira, hoje estou num deusnosacuda aqui!

Fábio Mayer disse...



Patinha e Shirley... estamos aguardando suas contribuições!

Túlio disse...

Pois é, Fábio.
Botam pilha e depois...

shirlei horta disse...

Tá, já entendi...