O celular tocou novamente. Pouquíssimas pessoas sabiam de seu novo número, que ela havia trocado por questão de segurança. Devia ser importante.
Era sua assessora de imprensa. Com voz embargada, a fiel escudeira disse que seu ex foi visto no aeroporto, em companhia da fulana que tinha dito uns dias antes no Superpovo que tinha família, que seus pais olhavam por ela e que nunca mais queria olhar pra cara dele.
Suzana, ao ouvir isso, fez aquele olhar 3:05 h, cheio de rímel, sem mover um músculo, como que dizendo "deixa estar". Desligou na cara da assessora e disse:
- Filomena!
- Sim, dona Susa...
- Mande o Expedito preparar o carro que eu vou sair. Pega minha bolsa - disse, se vestindo e se ajeitando dentro do sapato.
- Mas, e a manicure, dona Susa?
- Liga e desmarca. Preciso sair.
[...]
- Expedito, toca pro shopping. Preciso comprar enfeites de Natal para os meus netinhos e um fio-dental pra mim.
Câmera em close: Susana, no banco de trás, faz seu olhar 3:05 h novamente.
(Leticia)
Expedito, como o próprio nome, era expedito. Mais que depressa acabou de encerar os bancos de couro da Pajero preta.
-"a preferida do doutor Marcelo".
Da porta da garagem, acenou para a governanta Filó, dizendo com gestos que o carro estava pronto.
Desde o infausto acontecimento em sua vida amorosa que Suzana tinha se tomado de amores pela suv. Bebia que só uma prostituta, a suv, não a Suzana, mas ela nem aí. Mandava encher o tanque, dava duas voltas no Lebron, como dizia Expedito e toca abastecer de novo. Claro que os empregados todos faziam suas contas e chegavam à conclusão que a gasolina era bem mais barata que o "doutor Marcelo". E riam, à socapa.
Pronto o carro, lá foi Suzana. Bolsa Channel Four enorme, saia godê da Bitch Scat, sapatos Tereza Edilene Neuza, e uma camiseta preta básica DASPU. Um foulard no pescoço - onde mais?-arrematava e dava um ar senhoril à ela. Queria usar óculos escuros mas o que ela gostava, um Doce Cabana com apliques de ouro, era o mesmo que a nova namorada de seu ex-marido estampava nas fotos das revistas. "Só que o meu é original", pensou, maldosa.
O enorme e poluidor veículo manobrou nos jardins, Expedito sorria, aquele sorriso tipo botox de empregado capacho, quando passou pelos grandes portões. Suzana conferia os cartões enquanto dizia em qual shopping queria ir:
"aquele na Barra, perto de onde o Ronaldinho comeu os viados"!
Riu alto de sua própria piada. Expedito riu mais ainda, esbirro e sabujo. Quando o carro surgiu, parando naa frente da Pajero, quase nem viram. Era um Fiat Palio ano 96, de duas portas e sem direção hidráulica ou ar condicionado.
A porta do passageiro se abriu.
(Tom Paixão)
7 comentários:
Estou sentido falta do "noço lider" nessa história...eheheheheh
Tipo assim:
"Em solenidade ocorrida no PROJECA, onde inaugurou os novos estúdios da Rede X, o presidente declarou sua admiração pela atriz Suzana, e salientou o exemplo de vida em comum e paixão recíproca dela com seu atual marido, uma relação que é sólida e jamais acabará, tal qual a situação econômica do país".
Fábio, Fábio... Tá caçando briga com a Leticia.
Ihh, Túlio, a gente já "briga" que chega por aí... Imagina!
De qualquer modo, me aguardem.
Estou matutando aqui, como continuar a saga.
o sorriso ficou congelado no rosto de suzana. não que ela tivesse se assustado com a chegada do pálio. é que, devido a litros e mais litros de botox e uma enorme quantidade de plásticas, o sorriso dela demorava a terminar. algo como uma massa de bolo, que demora a perder a forma, escorrendo. quando ela conseguiu falar, já o motorista do palio se encontrava debruçado em sua janela. um forte cheiro de éter saia de sua boca "fabio", ela disse, "comé que cê tá, gatinho? pensei que estivesse na terra do obama, lá na beth ford!"
"como, su?," ele disse. "nem dinheiro pro álcool do carro tou tendo, mina. vim aqui pra te pedir uns dólares emprestados. o cara do movimento lá no leblon tá cobrando em euros. só abriu pra mim pagar em dólar por causa de quê eu num entreguei ele. tô na merda, su. meu dá umaa forçaa aí, vai!"
suzana se condoeu. mas não tanto a ponto de liberar suas doletas, ganhas com muito suor na dança do gelo. abrou a bolsa, tirou uma nota de cem e entregou ao rapaz, que parecia com fome. ele tentou demonstrar desilusão no olhar. como nenhum dos dois sabia arte dramática, ela não sacou e ele não soube como fazer. expedito meneou a cabeça. "essa moçada da grobo, hum!", pensou. suzana, depois de se livrar de fábio, sacudiu a cabeleira vermelha, como uma joelma em chamas e repetiu a ordem: "toca pro shopping da barra". enquanto isso, na praça de almentação do centro de compras, uma mulher comia salmão grelhado com brócolis no giraffa's.
vamu, fábio!! ei, palhaço!shirley, onde andas? malu, kizzy, todo mundo!!!
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