quarta-feira, julho 04, 2007

O bolivarianismo de Lula

Atendendo um pedido do Reinaldo Azevedo, republico e divulgo seu texto sobre a intenção do Noço Guia de se tornar um Chávez bananeiro. Leiam abaixo.


O bolivarianismo de Lula: como o PT pretende fazer da Rede Globo a sua RCTV

Considero o texto que vai a seguir um dos mais importantes já publicados neste blog. Nunca fiz isto, mas faço agora: reproduzam-no por aí, passem adiante, façam com que se multiplique. Ele identifica um método de ação do governo Lula, do chavismo à moda da casa. Denuncio aqui os instrumentos a que pretende recorrer o governo para implementar entre nós o bolivarianismo light. Porque o PT sabe que não pode fazer da Rede Globo a sua RCTV, resolveu estrangular a emissora financeiramente. No mundo ideal do petismo, devemos ficar todos subordinados à TV de Franklin Martins, que não precisa do mercado para existir, ou à TV Record — que, se ficar sem anunciantes, jamais ficará sem a Igreja Universal do Reino de Deus, dona do partido do vice-presidente e de Mangabeira Unger, aquele secretário que fala uma língua mais incompreensível do que a do Espírito Santo quando baixa em Edir Macedo — deve baixar, eu suponho. Também vou me penitenciar. Dizem que sou arrogante, que nunca assumo um erro. A segunda parte, ao menos, é mentirosa. Errei, sim. Errei na única vez em que apoiei, ainda que parcialmente, uma proposta do governo Lula. Fui enganado pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão. Uma recomendação: eis um nome do governo Lula que deve ser visto com muito mais cuidado.

Ufa! A introdução já ficou longa demais. Como sabem, o governo quer limitar o horário da propaganda de cerveja na televisão. E também enrosca com o seu conteúdo — Temporão, por exemplo, invoca com a tal “Zeca-Feira”. Mais: diz que a publicidade glamouriza o consumo do produto... No programa Roda Viva eu lhe disse que era favorável à limitação de horário para a propaganda, mas contrário a que o governo se metesse no conteúdo publicitário. Ora, isso seria nada menos do que censura. E o Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária é um órgão que funciona, sim, senhores! Só falta agora a gente ter um Romão Chicabom também na Saúde...

É claro que a limitação da publicidade acarretaria uma diminuição de receita para as emissoras de TV. "Fazer o quê?", pensei. "Aconteceu isso quando se proibiu a propaganda de cigarros; que procurem novos nichos, novos produtos, novas fontes de receita". Eu, o liberal tolo diante de um petista... Nova pretensão anunciada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) deixa evidente que a limitação da propaganda de cerveja tem mais a ver com a saúde do governo Lula do que com a saúde dos brasileiros. Eu passei a considerá-la parte de uma estratégia para asfixiar as emissoras que dependem do mercado para viver: que não têm estatais ou igrejas de onde tirar a bufunfa. Fui um idiota. Não apóio mais. Penitencio-me.

A Anvisa, órgão subordinado ao Ministério da Saúde, agora quer limitar ao horário das 21h às 6h a propaganda de alimentos considerados poucos saudáveis, "com taxas elevadas de açúcar, gorduras trans e saturada e sódio" e de "bebidas com baixo teor nutricional" (refrigerantes, refrescos, chás). Mesmo no horário permitido, a propaganda não poderia conter personagens infantis e desenhos. Segundo a Abia (Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação), isso representaria um corte de 40% na publicidade do setor, estimada em R$ 2 bilhões em 2005. Dos R$ 802 milhões que deixariam de ser investidos, aos menos R$ 240 milhões iriam para a TV — a maior fatia, suponho, para a Rede Globo.

Virei caixa dos Irmãos Marinho agora? Não! Virei guardião da minha liberdade. É evidente que se tenta usar a via da saúde para atingir o nirvana da doença totalitária. É evidente que estão sendo criadas dificuldades para as emissoras — e, a rigor, nos termos dados, para todas as empresas que vivem de anúncios — para vender facilidades. O ministro Temporão, que ainda não conseguiu fazer funcionar os hospitais (sei que a tarefa é difícil; daí que ele deva se ocupar do principal), candidata-se a ser o grande chefe da censura no Brasil. Na aparência, ele quer nos impor a ditadura da saúde; na essência, torna-se esbirro de um projeto para enfraquecer as empresas privadas de comunicação que se financiam no mercado — no caso, não o mercado do divino ou o mercado sem-mercado das estatais.

Imagine você, leitor, que aquele biscoito recheado (em SP, a gente chama “bolacha”) que sempre nos leva a dúvidas as mais intrigantes (Como as duas de uma vez? Separo para comer primeiro o recheio? Como o recheio junto com um dos lados?) seria elevado à categoria de um perigoso veneno para as nossas crianças — mais um querendo defender as crianças! —, que serão, então, protegidas por Temporão desse perigoso elemento patogênico. Mais: mesmo no horário permitido, a propaganda teria de ser uma coisa séria, né? De bom gosto. Sem apelo infantil. O Ministério da Saúde é uma piada: quando faz propaganda de camisinha, sempre recorre a situações que simulam sexo irresponsável. Mas não quer saber de desenho animado em propaganda de guaraná. A criatividade dos publicitários, coitados, teria de se voltar para comida de cachorro. Imagine o seu filho, ensandecido, querendo comer a sua porção diária de Frolic, estimulado pela imaginação de publicitários desalmados.

Assim como o governo pretendia impor a censura prévia na presunção de que os pais são irresponsáveis, agora quer limitar a propaganda de biscoito e refrigerante porque as nossas crianças estariam se tornando obesas e consumistas.

Estupidez

A proposta não resiste a 30 segundos de lógica. É evidente que biscoito não faz mal. Biscoito não é ecstasy. Em quantidades moderadas, de fato, não havendo incompatibilidade do organismo com os ingredientes, até onde sei, faz bem. Se o moleque ou a menina comerem um pacote por dia, acho que tenderão a engordar. Acredito que há um limite saudável até para o consumo de chuchu... Ora, carro também mata. Aliás, acidentes de automóveis são uma das principais causas de morte no Brasil. A culpa, quase sempre, é da imprudência do motorista ou das péssimas condições das estradas. Nos dois casos, é preciso usar/consumir adequadamente a mercadoria. A Petrobras é uma grande anunciante — e certamente estará no apoio à TV de Franklin Martins. Os produtos que ela vende poluem o ar e aquecem o planeta (sou de outra religião, mas dizem que sim...). A publicidade, então, deverá estar sujeita a severas limitações?

Uma pergunta: água entra ou não na categoria das “bebidas com baixo teor nutricional”? O ridículo desses caras é tamanho a ponto de propor limites à propaganda de água? Ela alimenta mais ou menos do que um copo de coca-cola ou de mate? E de lingüiça, pode? A gordura animal em excesso também faz mal à saúde. Quem garante que o sujeito não vai consumir o produto todos os dias, até que as suas artérias se entupam? Não ande de moto. Há o risco de cair. Numa bicicleta, você pode ser atropelado. E desodorizador de ambiente do moleque que quer fazer “cocô na ca-sa do Pe-dri-nho”? Pode ou não? Não fere a camada de ozônio?

Nazistas

Observem: se isso tudo fosse a sério, fosse mesmo com o propósito de cuidar da saúde dos brasileiros, já seria um troço detestável. Sabiam que os nazistas foram os primeiros, como direi?, ecologistas do mundo? É verdade: não a ecologia como uma preocupação vaga com a natureza, mas como uma política pública mesmo. Hitler gostava mais de paisagem do que de gente, como sabemos. Eles também tinham uma preocupação obsessiva com a saúde, com os corpos olímpicos. O tirano odiava que se fumasse perto dele, privilégio concedido a poucos. Mas o mal em curso não é esse, não.

A preocupação excessiva do governo nessa área, entendo, é também patológica, mas a patologia é outra. Por meio da censura prévia — de que foi obrigado a recuar — e da limitação à publicidade de vários produtos, pretende é atingir gravemente o caixa das empresas de comunicação, que fazem do que conseguem no mercado a fonte de sua independência editorial. Ora, é claro que, sem a publicidade da cerveja, dos alimentos e do que mais vier por aí, elas ficam, especialmente as TVs, mais dependentes da verba estatal e do governo.

O raciocínio é simples: vocês acham que a porcentagem da grana de estatais no faturamento global é maior numa Band ou numa Globo? Numa Carta Capital ou numa VEJA? No Hora do Povo ou no Estadão (a propósito, veja post abaixo)? Os petistas não se conformam que o capitalismo possa financiar a liberdade e a independência editoriais. Quer tornar essas grandes empresas estado-dependentes. Quanto mais se reduz o mercado anunciante — diminuindo, pois, a diversidade de fontes de financiamento —, mais se estreita a liberdade.

Golpe

Trata-se, evidentemente, de um golpe, mais um, contra a imprensa livre. E por que digo que o alvo é a Globo? Porque, afinal, ela concentra boa parte do mercado publicitário de TV — é assim porque é melhor e mais competente, não porque roube as suas “co-irmãs” — e porque, no fim das contas, o que importa mesmo a Lula é aparecer bem no Jornal Nacional. E ele deve considerar que isso é tão mais fácil de acontecer quanto mais ele disponha de instrumentos para tornar difícil a vida da principal emissora do país. Acho que vai quebrar a cara.

E Temporão, tenha sido ou não chamado à questão com esse propósito, tornou-se o braço operativo dessa pressão. Curioso esse ministro tão cheio de querer impor restrições do estado à vida e às opções das pessoas. É aquele mesmo que já deixou claro ser favorável à descriminação do aborto até a 14ª semana porque, parece, até esse limite, o feto não sente dor, já que as terminações nervosas ainda nem começaram a se formar. É um ministro, digamos, laxista em matéria de vida humana, mas muito severo com biscoitos. O que faço? Recomendo a ele que tenha com as crianças que estão no ventre o mesmo cuidado que pretende ter com as que querem comer Doritos?

Eis aí o caminho do nosso bolivarianismo. A terra está amassada pelo discurso hipócrita da saúde. Farei agora uma antítese um tanto dramática, cafona até, mas verdadeira: essa gente finge cuidar do nosso corpo porque quer a nossa alma.

*PS: Reitero: divulguem este texto, espalhem-no na Internet, montem grupos de discussão no Orkut, passem a mensagem adiante, mobilizem-se.

13 comentários:

Fábio Mayer disse...

Opa!

Perdão pela inguinorança, mas acho que Tio Rei tá enganado!

Limitar o horário de propaganda de cerveja vai na mesma linha de limitar o horário de acabar com propaganda de cigarro.

Saúde pública é mais importante, mormente em um país onde jovens de 12, 13 anos bebem sob o efeito da propaganda que os induz a pensar que encher o rabo de cerveja será o caminho mais curto para as gatas de biquini!

Vai gerar perda de receita para as emissoras, vai sim!!! Mas também para a indústria do álcool...

O problema é que Tio Rei é meio paranóico e acha que o governo vai limitar também a propaganda de biscoitos e refrigerantes. Pelo amor de Deus, o que não segue a lógica é um pensamento como esse!

Se o ministro vai à TV e diz que precisa regulamentar, como também fizeram os ministros do FHC e ninguém foi dizer ai meu Deus querem calar a mídia!!!

Claro que tem petista louco para calar a mídia, mas daí a acabar com a atividade econômica do país é outra história... Tio Rei exagerou, aliás, ele exagera sempre que fala do governo.

O mesmo governo que paga BILHÕES de verba publicitária para as mesmas TV(s), inclusive a Globo... não seria mais fácil asfixiá-las simplesmente atrasando o pagamento disso?

Enfim, ele exagerou na dose...aliás, tem exagerado em demasia...

Anônimo disse...

Eu também achei muita teoria da conspiração, embora ache que ministro da saúde não tem nada que falar do Zeca Pagodinho e que o governo tá preocupado demais em impor regras aos meios de comunicação. Daí a tramar um plano tão complexo para destruir e submeter a Globo, acho exagero. Eles nem são tão espertos assim.

|Renata_Emy| disse...

Oi moço, como diz minha amiga Cris, estou fazendo uma visitinha de médico!

Bjus

Anônimo disse...

Estou mais pela linha do Fábio Max. Mas enttendo a resistência do Reinaldo Azevedo, porque, para implantar algum cerceamento, sempre se começa por um tema "mais ameno", e a partir daí o torniquete vai girando, lentamente.

Pessoalmente acho que propaganda de cerveja é algo pernicioso. Não por causa da saúde física, mas da saúde mental. Eu não me lembro de ter visto propaganda de cerveja que não fosse uma rematada idiotice.

Mas se o governo parte desse pressuposto, daqui a pouco terá também de tirar propaganda de cosméticos milagrosos, de aparelhos de ginástica, de redutores de barriga, de Casas Bahia, de empréstimos para aposentados... enfim, tudo o que é uma firula e faz mal a qualquer coisa: à saúde, ao bolso, ao cérebro...

Aí o mercado pára. Não dá mesmo.

Fábio Mayer disse...

Ainda esqueci de um detalhe!

Restringir a propaganda de tudo que é potencialmente danoso, diminui também a receita das TV(s) "amigas"...

Tio Rei exagerou na dose...

Túlio disse...

Concordo com vocês. Também achei que o Reinaldo exagerou. Mas é uma polemicazinha interessante. A Lets tá mais que certa. A coisa começa light, depois vai ficando mais pesada. Reinaldo exagerou, mas também, lá no fundo, não deixa de ter razão.

Anônimo disse...

Que o Reinaldo exagerou, exagerou, mas acredito que que a mensagem que ele quer passar é essa:"Fiquem alerta!".

Para quem não sabe foi assim que começou na Venezuela, o governo começou a interferir nas propagandas e no final...



Fábio Max

E desde quando o governo paga alguma coisa em dia!?

Fábio Mayer disse...

Malu,

O governo NUNCA atrasa o pagamento da Rede Globo. NUNCA! Tenha certeza disso!

E na Venezuela isso não aconteceu. Lá, fecharam a RCTV e papo encerrado. O que houve é que eles informaram às multinacionais que a porta da sua é serventia da casa...e as multis estão caindo fora!

Anônimo disse...

Quando eu estudei na COPPEAD com o diretor financeiro da Globopar e com o gerente financeiro do Grupo Extra eles só falavam mentiras para enganar o professor e obter ajuda nos problemas financeiros das empresas, vou rever minhas anotações porque elas são uma fraude, vou ligar para eles e obter os números corretos.

Os venezuelanos que moram aqui na minha cidade ficam inventando mentiras, vou lá falar com eles agora mesmo, aonde já se viu dizer que foram perseguidos, que foram "estrangulados" financeiramente pelo governo venezuelano!? e ainda por cima deixar a vida de classe média, é isso classe média, ô raça!, e vir morar aqui no EUA e trabalhar em sub-empregos.

Vou também conversar com o presidente da empresa do meu marido e falar para ele parar de falar mentiras a respeito da Venezuela, afinal ele só morou 12 anos lá, veio para cá no final do ano passado e agora fica inventando mentiras.

Nossa esse pessoal só morou lá e agora fica lendo notícias de jornal e espalhando que essas notícias que a imprensa "mentirosa"espalha por ai...

Anônimo disse...

Fábio, Chavecito está minando as empresas nacionais tb., e começou com medididas inocentes. Faz um tempo, ele vem provocando uma certa burocracia no setore de câmbio, para que os empresários de lá se funhequem aos poucos. Todos, mas TODOS os exportadores venezuelanos estão se f.... porque NÃO CONSEGUEM pagar os fornecedores brasileiros, sabia?

Daí vem a insolvência, daí Chávez estatiza as bichinhas e ainda sai de bonzinho na história.

Por isso não gosto de brechinhas inocentes. É como numa barragem: vai deixar um fiozinho rachado pra ver o que acontece daqui a algum tempo, vai!

Túlio disse...

É!!
Se funhequem!!

Fábio Mayer disse...

Que Chavecito estrangula asempresas de lá, não duvido...aqui no Brasil estão fazendo o mesmo com o SuperSimples.

Mas esse negócio de achar que o faz acabando com publicidade, não adianta, nada me convence que seja assim.

Anônimo disse...

Fábio.
Até aonde vai minha ignorancia aprendi que: jornais, T.V., revistas, rádios, internet, enfim meios de comunicação vivem de publicidade.

Não gosto que ditem regras queria sim que esses "sinistros"e o "Voço Guia" se preocupassem com educação e saúde assim as pessoas poderiam fazer uso do livre arbítrio e optarem pelo melhor em suas vidas.