Outro dia li um comentário da Letícia dizendo que tava com saudade dos meus textos. Não costumo torturar meus amigos, mas, como todo mundo sabe, Letícia fala e eu obedeço. Esse continho eu ia publicar na época do natal, mas (ainda bem) acabei desistindo. Foi escrito há uns 8 anos, quando eu ainda achava que tinha talento. Publico-o agora, como se vocês já não tivessem problemas demais. Culpa da Letícia!!!
NATAL
O natal é uma época esquisita. Todos ficam meio bobos. Esta é a única explicação para uma pessoa torrar todo o seu 13º salário em presentes, passar os próximos três meses pagando contas e ainda ficar feliz.
A festa então é das coisas mais esquisitas. Um velho barrigudo e barbudo, com grossas roupas vermelhas pouco prováveis em um clima tropical, carrega um saco de presentes nas costas. Como é que com todo aquele esforço, suando feito um porco, ele ainda não emagreceu? Vou cancelar a minha matrícula na academia de ginástica... E o nome então? Como é que um velho que mais parece o seu avô tem o nome de Papai Noel? Não seria melhor Vovô Noel? Pelo menos é melhor que o original: Santa Claus. Santa? Já imaginou os cumprimentos? “Tá boa, Santa?”.
A árvore de natal é um capítulo à parte. A montagem é mole. Todos querem ajudar. O problema é que estas árvores têm uma estranha tendência a ficarem armadas até o carnaval. Ninguém tem paciência para desmontar e guardar todos aqueles enfeites que enchem seus galhos. São bolas, estrelas, anjos e uma infinidade de luzes pisca-pisca. E fica aquela coisa piscando todas as noites na sua sala. Um suplício, pois todos estes pisca-piscas agora cantam. E a patroa chega do camelô com 4 ou 5 pacotes destas lâmpadas e anuncia: “cada uma toca uma música diferente”. E é claro que todas vão tocar ao mesmo tempo.
Este ano ainda inventaram um tal Papai Noel que canta e rebola ao mesmo tempo. Canta “Jingle Bell Rock”. Só! Muito bonitinho, mas após 3 horas ouvindo a mesma música você já tem vontade de estrangular o pobre boneco. Você até conhece alguns que estrangularam. Mas tiveram que dormir no sofá. Só de pensar, suas costas doem.
Mas tudo bem. Você passa por cima de tudo isso, pois, afinal, é natal. Você se arruma todo e vai para a festa receber seus presentes: um CD repetido e uma calça que não serve. E entrega os seus: uma cueca e um par de meias. Seu sobrinho te chama de pão duro e te dá um chute na canela. Tudo bem. É natal. A filhinha do seu primo está perseguindo o seu filho, o Júnior, com um bastão de beisebol na mão. Os dois passam correndo e esbarram na sua cristaleira. A cristaleira cai. Todas as suas taças e sua coleção de pratos antigos estão destruídos. A coleção estava na família há mais de 200 anos. Sem problemas. É natal. Não precisa dar pontos na testa do Júnior. Você cata os cacos no chão e se esquece do peru no forno. Os bombeiros são chamados. Nenhum dano grave mas a ceia agora vai ser salpicão e batata palha. As mulheres não gostam. Os homens adoram. Agora não precisam parar de beber. Por falar nisso, seu cunhado, já completamente bêbado, faz xixi atrás da árvore de natal. A árvore cai. Ótimo. Agora não precisa desmontar.
Fim de noite. Todos se despedem. Seu sobrinho chuta a sua canela de novo. Mas você é forte. Sobreviveu a mais um natal. Convenhamos, foi até mais tranquilo que o do ano passado. Você troca de roupa. Finalmente. Um merecido descanso após a batalha natalina. Vai escovar os dentes. Descobre que o seu cunhado passou mal e vomitou todo o banheiro. Você vai ter que limpar. E sem ajuda da patroa que está colocando o júnior para dormir.
Mas tudo bem. É natal.
16 comentários:
Ai que bonitinho! Adorei! A droga dos nossos textos é que passa um tempo e a gente acha que eles são uma droga. Na verdade, somos nós que ficamos uma droga, não os textos.
Todo mundo me incentiva a voltar a escrever. Sei não. De tudo que produzi, apenas um ou outro serviria pra hoje sem que eu passasse muita vergonha.
Um dia, se tiver coragem, eu mando um pra vocês, chamado "A comilança", qq. coisa assim. Foi o único que reli e reiterei tudo o que escrevi, sem trocar uma palavra.
Tem que ver com esse do Natal - o exagero obrigatório a que todos se submetem sem pensar muito.
Amei, Túlio! Uma beijoca!
Tô esperando o texto, Lets.
Bom dia, macacadaaaaaa!!!!!!!!
Bom dia!!!!
Hoje não tem trabalho (pelo menos na parte da manhã). Cheguei pro trampo e o prédio tinha sido invadio pelos sem terra!!
Vida longa aos sem terra!!!
Bem,
Todo escritor que se preze, DETESTA seus textos mais antigos. Se a gente fizer uma entrevista, certamente o Garcia Marques vai achar algum defeito em Cem Anos de Solidão e o Paulo Coelho vai dizer que não estava inspirado ao escrever Brida (cá entre nós, não estava e continua sem inspiração até hoje né?).
Logo, bobagem do Túlio, o texto tá legal, lembra muitos Natais que já passei...
Putz! Fui comparado ao Paulo Coelho. Vou ali tentar o suicídio e volto já.
ô negativismo!!!
Túlio, eu comparei ao Garcia Marques, não ao Paulo Coelho!
E por mais que o GG esteja gagá, ele ainda continua gênio!
Mas que beleza, Túlio! Pelo jeito, nem de tarde, né? Sim, porque os eshshscruídos sempre deixam seus mimos por onde passam. Meio período, hoje, só o pessoal da limpeza.
Estamos torcendo, Lets.
Ahh Túlio, se todos os seus textos antigos forem divertidos como esse, poste todos eles!
Bonzinhos vocês...
Confirmado: não eremos expediente à tarde também.
Eu adoro o MST!!!!
Uêba! Dependendo do estrago que eles fizeram, nem amanhã!
É no Incra, pois não?
GENIAL!!!! ADOREI!!!! Por quê a gente se mete a crítico, quando é escritor? Hein? Noossa, Túlio, mas o que eu tô de saudades de você não cabe aqui. Calma, gente, eu ainda estou sonâmbula. Mas deu pra perceber a mudança no visual - dez! Tenho um monte de fofocas, mas vou contando aos poucos.
SHIRLEEEEEIII!!!!
Saudades de você! Vai contando as fofocas e prometa que não vai sumir de novo.
Quanto ao genial, bem, você é muito gentil e pouco exigente...
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